MULHERES DE FORÇA
“Dizem que mulher é um sexo frágil, mas que mentira absurda”, afirmou Erasmo Carlos quando decidiu homenagear a mulher e, não exagerou, principalmente, se pensarmos nas Policiais e Bombeiras Militares Estaduais da Bahia que conseguiram o direito de ingressar na Corporação em 1989, assumindo funções que até este momento eram especificamente dos homens.
Entre as representantes da primeira turma de policiais mulheres da Bahia estão as Majores Denice Santiago Santos do Rosário, Comandante da Ronda Maria da Penha, e Ana Fausta de Assis Araújo, Comandante do 13º Grupamento Bombeiro Militar.
A Major Ana Fausta é a primeira oficiala a ingressar no Corpo de Bombeiros Militar da Bahia. O convite surgiu no mesmo momento em que acontecia a extinção da Companhia de Polícia Feminina (CPFem). “Eu fui apresentar outras policiais no Corpo de Bombeiros e o Comandante me fez o convite. Inicialmente pedi a ele para pensar porque era algo novo e realmente senti um pouco de medo, mas aceitei pelo desafio que surgia para mim”, relatou a Major ressaltando que foi uma das decisões mais acertadas da vida.
Dona de um sorriso largo, sua marca registrada, a companheira de turma da Major Ana Fausta, tem 45 anos de idade é muito agitada e, também, não brinca em serviço, enquanto responde às nossas perguntas a Major Denice Santiago vai orientando os demais colaboradores da unidade, localizada em Periperi, atende telefonemas, responde e-mails, recebe convites e sorri. Um sorriso de quem ama o que faz e sabe exatamente o que quer.
Esse amor, por sinal, é o condutor da posição exercida por essas mulheres. Elas são categóricas ao afirmar que as mulheres que têm papel de liderança dentro da Corporação possuem uma forma diferente de chefiar. Segundo elas, as mulheres são mais sensíveis e tem uma maneira peculiar de comandar que transcende os limites da farda e da unidade de trabalho.
“Nós comandamos tocando a pessoa, olhando a pessoa, nós comandamos nos preocupando com o homem e a mulher por trás do policial”, declara a Major Santiago. Para Fausta, as mulheres fazem um comando participativo. “A mulher comanda o que a tropa precisa, o que a tropa necessita e o que podemos oferecer para atender as necessidades da sociedade”, completa.
Aos 18 anos, orientadas pelos pais, elas vislumbraram na oportunidade do concurso público da Polícia Militar da Bahia, uma garantia para o futuro. Entretanto, o que era para ser apenas uma “segurança de vida”, deu lugar à paixão.
O amor pela Instituição Polícia Militar é claro e sem reservas. Ao falar sobre o que faz a Major Denice se emociona “A polícia me escolheu… quando entrei aqui eu me apaixonei”, destaca ela com um brilho peculiar nos olhos e com a voz bem entoada, reforçando o amor pelo que faz, através dos sentidos.
“Fomos verdadeiras desbravadoras, eu e Denice, porque tivemos que enfrentar muitas dificuldades, mas conversamos muito e as coisas foram se ajustando. Com o tempo eles [os homens da PM] começaram a lidar com nossas TPMs e apesar da resistência nós mostramos que somos capazes”, relembra a oficiala Ana Fausta e destaca que ainda há muito a se fazer pela valorização da mulher nas Corporações.
Para elas, embora muitas mulheres tenham conseguido atingir postos de oficiais – tenentes, capitães e majores – ainda precisam provar, diariamente, a competência para estarem em função de comando. “O médico não precisa provar que sabe utilizar um bisturi, mas nós precisamos provar que sabemos manusear uma arma”, destaca Santigo. “Nós, para conseguirmos chegar a qualquer lugar, temos que ter o posto e a competência. Diferente de um homem que pode ser treinador e não saber jogar… entende?”, declara Ana Fausta.
De acordo com a Comandante do 13º GBM alguns fatores são considerados marcos para as mulheres na corporação como, por exemplo, a premiação da Major Denice Santiago com o prêmio Bertha Lutz. “Ver minha colega nessa posição é muito gratificante. Com todas as dificuldades ela tem nos representado”, afirma ela. Além disso, ver outras companheiras em situação de comando “ver que outras mulheres estão chegando ao oficialato superior e, principalmente, que estão assumindo posições de comando é sensacional”, completa a Major Ana Fausta.
FAMÍLIA
“Temos que ser a mulher maravilha, mas, infelizmente ela não existe!”, desabafa a Major Ana Fausta que é mãe de uma adolescente de 17 anos e responsável pelo irmão que possui Síndrome de Down. Segundo ela, a filha não entende que não tem como separar vida profissional e pessoal “Ela sempre diz que sou a única que trabalha no mundo”, comenta ela, ressaltando que tenta administrar o dia-a-dia.
A relação da Major Denice com a família, também é intensa, apesar de afirmar que não é mesmo possível separar as duas coisas, quando o assunto é o filho adolescente e o marido, ela é enfática. “Quando estou com eles, estou com eles”. O sorriso que acompanha o comentário comprova que, embora exista uma satisfação com o trabalho exercido, a família é a fonte de reposição da sua força.
As duas oficialas demonstram que gostam de viver intensamente o presente, mas seus sonhos estão localizados em extremos. Enquanto a Major Ana Fausta vive, atualmente, o sonho profissional “nesse momento meu sonho é dar dignidade a minha tropa. É conseguir motivar minha tropa”, a Major Denice alimenta o sonho de ser feliz, morando em algum cantinho da capital baiana, onde possa fazer uma horta própria e ver sua família feliz, vivendo em tranquilidade, assistindo seus filmes prediletos, com personagens fortes, onipotentes, guerreiros, sonhadores e infalíveis.
PREMIAÇÃO
Em homenagem ao dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e ao trabalho desenvolvido na Ronda Maria da Penha a Major Denice receberá dois prêmios. O primeiro é o Diploma Bertha Lutz – que laureia mulheres que tenham oferecido relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher e questões do gênero no Brasil –, em Brasília. A oficiala foi indicada pela Senadora Lídice da Mata durante uma palestra onde apresentava o projeto Ronda Maria da Penha. Além da Major, outras quatro mulheres serão agraciadas com a prêmio.
E o segundo prêmio, disputado acirradamente com duzentos inscritos, é o “SELO FBSP 2017 – Práticas inovadoras no enfrentamento à Violência Contra a Mulher”, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com o Projeto “Ronda Para Homens” a ser entregue em São Paulo.
“Dezoito unidades Federais se inscreveram. Quando recebi a informação que a gente tinha conseguido ganhar esse prêmio eu dava gritos na rua”, afirma ela, reforçando que as indicações e premiações são o reconhecimento do trabalho realizado ao longo dos dois anos de atuação da Ronda Maria da Penha.